Nada mais chato do que conversar ou conviver com pessoas que “se acham”. É fácil identificá-las. De modo geral, elas conversam em primeira pessoa: “eu fiz isso e aquilo, recebi muitos elogios do fulano ou do ciclano, eu construí aquele projeto, eu faço trabalho social…”, enfim, o mundo gira em torno delas.

O mais interessante é que essa maneira de se colocar denota, na verdade,

autoestima baixa e uma necessidade de se autoafirmar.

O problema é que muitas pessoas que se sentem a última bolacha do pacote tendem a distorcer a realidade, inverter os fatos e acontecimentos, colocando-se, quase sempre, no papel de “vítimas”. Quando os argumentos e justificativas acabam, elas tendem a usar atitudes ditadoras.

Provavelmente, nas suas relações pessoais, interpessoais, conjugais, familiares e profissionais, esses indivíduos passaram por sérios conflitos, causando mágoas e desrespeitos nas pessoas com quem conviveram.

Esse tipo de indivíduo imagina que faz sempre tudo certo, que é politicamente correto e, quando alguma coisa sai errada, a culpa é do outro ou de uma situação. Ou seja, todos conspiram contra ele. Outra característica dessa pessoa, agindo dessa forma, é a imaturidade, típica de quem ainda tem comportamentos infantis, transferindo suas responsabilidades para alguém.

Quem sofre da “síndrome da última bolacha do pacote” tem medo de crescer e encarar a realidade de que ele não é o centro do universo. Gratidão é um sentimento que desconhece, sendo egocêntrico, egoísta, com olhos para o próprio umbigo.

O homem ou a mulher, quando namora ou casa, banca o gostosão, a namorada ou o namorado fica na sua sombra. Só ele (a) quer brilhar. Na família faz de tudo para sempre aparecer e ser o(a) queridinho (a). Com os amigos ou no trabalho, tudo o que faz é o melhor.

Enfim, tais pessoas só não se dizem melhores que Deus porque aí pegaria mal demais – isso não significa que, em momentos extremos, quase acreditem nisso… Os semideuses.

É ou não é muito chato ter um amigo desse? Mas ainda pode piorar: ele não tem senso crítico, usa jargões e gírias ou eloquências em tom professoral para dar sua opinião (quase uma ordem), como se estivesse na sala de aula e todos, ao seu redor, fossem seus aprendizes. Muitas vezes traz para a conversa suas crenças políticas, sociais, econômicas, religiosas, mas com argumentos frágeis e pouco sustentáveis, defendendo sua verdade como única.

É aí que a gente percebe que essa última bolacha murchou dentro do pacote, porque, de agradável e instigante, não tem nada.

Mas sejamos francos: todos nós, um dia na vida, nos sentimos os melhores do mundo. Temos essas fases e isso faz parte do aprendizado, justamente para que saibamos o que precisamos mudar e que todos têm limites e defeitos. Quando é uma etapa, tudo bem, mas quando vira uma síndrome, um estilo de vida… Que chatice! Então, sugiro que você faça uma autoanálise para perceber se já passou pela síndrome e o que aconteceu para sair dela. Se você está vivendo-a neste exato instante, cuidado para não se tornar o chato da vez. Converse com as pessoas mais próximas e pergunte se algo em você é muito arrogante, ditador. Essa é uma boa maneira de iniciar boas transformações, ouvindo quem te conhece para saber mais de você mesmo.

Boa sorte!

Sebastião Souza
Psicoterapeuta de casais e famílias

Síndrome da última “bolacha do pacote”

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