É comum os pais chegarem aos consultórios clínicos com a seguinte pergunta: “Por que nossos filhos nos odeiam, nos rejeitam e são autoritários conosco? Onde será que  erramos?”

Essa situação lembra uma história. Certa vez, durante um workshop aqui no Brasil, perguntaram para o médico Claude Olievenstein como se forma uma pessoa com comportamentos autodestrutivos/destrutivos ou um dependente químico. A resposta dele nos serve para fazer uma analogia com o tema deste artigo, sobre pais que se sentem reféns de seus filhos ditadores.

O professor respondeu, usando uma metáfora: “Vocês conhecem aquelas dunas de areia do Nordeste? Pois é. Elas são formadas por vários componentes, mas os três mais importantes são os grãos de areia, o pé de capim e o auxílio do vento. Um dia o vento soprou um grão de areia e esse parou em um pé de capim. No outro dia o vento soprou dois grãos de areia que pararam nesse mesmo pé de capim e assim aconteceu sucessivamente. Após alguns anos, os grãos de areia foram se acumulando em torno do pé de capim e hoje temos  as famosas  dunas nordestinas”.

Os pais presentes, após momentos de reflexão sobre o que ouviram, concluíram que realmente trabalharam duro, tiveram uma vida honesta, construíram um patrimônio financeiro razoável e deram uma  boa educação aos filhos, na expectativa de que eles fossem  gratos e reconhecessem seus esforços, o que nem sempre acontece.

Nesse mundo mágico, preparado pelos pais para seus filhos, é possível detectar, logo no início da infância e adolescência, que quando os pais não colocam limites, não traçam regras de convivência familiar e evitam conflitos para não magoar os filhos, acabam acumulando questões não resolvidas, formando uma espécie de duna irreal ou fantasiosa.  

 

Proteção “bumerangue”

 

A falta de limites e regras para crianças e adolescentes pode ser comparada àquele grão de areia que o vento soprou e que parou no pé de capim, transformando tudo em uma duna. Nas famílias não é muito diferente: a ausência de regras e limites acaba acumulando questões não resolvidas, o que pode desencadear processos autodestrutivos e destrutivos ou, até mesmo, um quadro de dependência química.

Vale ressaltar que, na maioria das vezes, os pais constroem projetos e criam expectativas irreais com relação à vida dos filhos. Para tentar sustentar esse mundo fantasioso, transformam-se em verdadeiros super-heróis.
Esses comportamentos e atitudes dos pais têm como objetivo proteger sua prole das frustrações, decepções e dos fracassos que encontrará pela vida afora.

A proteção excessiva tem um “efeito bumerangue”, já que os filhos nessa situação, em sua maioria, ficam vulneráveis ao convívio social

Essa vulnerabilidade surge por meio dos insucessos, derrotas e fracassos que eles terão de enfrentar frente a diversas dificuldades que a vida impõe. 

De um modo geral, essas dificuldades são cobradas dos pais em forma de dívidas emocionais, dívidas essas que são impagáveis, o que transforma os filhos em implacáveis ditadores familiares.

Nesse sentido, parece que quando as relações entre pais e filhos caminham nessa direção de reféns e ditadores, uma das possibilidades para quitar as dívidas emocionais é a reconstrução e a re-significação dos vínculos afetivos nas relações familiares.

Será que os pais e filhos estão dispostos a mexer nessa relação? Ao que tudo indica, essas relações são análogas à formação de uma duna, só que construídas não com areia, mas com mágoas, raivas e frustrações.

Para os pais e os filhos que desejam construir relações sadias, fincadas em solo fértil e não na areia, podemos afirmar que a mudança é possível. Podem contar conosco para ajudá-los. É só entrar em contato.