
Vivemos tempos difíceis. As relações entre seres humanos passam por mudanças significativas, como nunca testemunhamos antes.
No amor, vê-se cada vez mais laços afetivos construídos entre pessoas frágeis e instáveis. Segundo Bauman (2003), no livro “Amor líquido”, as relações humanas em nossa sociedade contemporânea se moldam semelhantes aos líquidos que, ao serem colocados em um recipiente, se adequam ao seu formato.
Em outras palavras, nossas relações, de modo geral, sofrem mutações o tempo todo, como se fossemos “camaleões” que mudam suas cores conforme a vegetação para esconder-se dos seus predadores.
Nas nossas relações, consideramos o próximo como um predador
ou um ser em evolução como nós mesmos?
A melhor resposta para esta questão é outra questão: os valores éticos, morais, políticos e os modelos de relacionamentos que vivemos em nossas experiências interpessoais servem como parâmetros para considerar o próximo como um inimigo de guerra ou como um parceiro afetivo e amigável, que contribui ao nosso crescimento pessoal, conjugal, familiar e profissional?
Na guerra, há a perda de todos os parâmetros de realidade. No modus operandi de hoje vivenciamos guerras de todos os tipos: interior, conjugal, familiar, profissional, religiosa, política, econômica, social, ideológica… Difícil saber em que momento nós estamos em paz.
As imensas atrocidades cometidas em nome de algumas ideologias não visam mais os inimigos e, sim, a publicidade em redes sociais e mídias eletrônicas.
As guerras ideológicas não se importam com as perdas humanas. O que prevalece é a visibilidade e status de seus grupos de guerrilha. Até algum tempo atrás os personagens que atacavam um alvo tinham pudor ao perceber que, para atingir os seus inimigos, matariam crianças, idosos, civis de forma geral. Hoje não. Quase em tempo real, esses assassinos aparecem diante das câmaras da televisão e assumem a autoria do atentado para o mundo.
Para eles, cada atentado, e o maior número de vítimas, valida seus poderes, como se matar pessoas inocentes lhes garantisse um grau a mais na escalada do ódio e desprezo pelos outros seres humanos que não compartilham de suas crenças.
Agora vamos imaginar que esses guerrilheiros sanguinários, que querem ganhar visibilidade com suas façanhas atrozes, foram crianças, adolescentes ou adultos invisíveis aos nossos olhos, de seus familiares ou governantes.
Sobre isso, falaremos na segunda parte deste artigo. Não perca!