O Covid-19 é um pequeno agente venoso e infeccioso que colocou o mundo em isolamento. Nesses 100 dias, morri e renasci várias vezes, em sonhos, pensamentos, emoções e até na forma de demonstrar meu comportamento.
Por vezes, fui manso como se estivesse esperando um milagre, por vezes agressivo, hostil, grosseiro e proativo demais levando meu organismo a exaustão.
Não lembro ter sentido o sopro da morte e da vida tão próximos.
Algumas vezes renasci das cinzas, como a fênix, em outros momentos, me senti um urso polar hibernando ou enrolado em um cobertor, por 14 horas assistindo seriados.
Realmente, não dá para entender o que o isolamento pode fazer com a gente. Coisa que até o “diabo” dúvida, como se ele não duvidasse de tudo.
Tudo indica que nossa mente não sabe o que nosso coração sente, e vice-versa. Não que eu seja imune ao perigo da contaminação, mas tento racionalizar, dizendo a mim mesmo que estou fazendo tudo certo.
Existe uma grande diferença entre o que eu quero ver e o que eu quero enxergar.
Ver me faz entrar em contato com as minhas vulnerabilidades e fragilidades, nesse momento é como se a morte estivesse dentro de mim adormecida o tempo todo.
Enxergar é me enganar que comigo isso não vai acontecer.
Na verdade eu queria sempre poder ver. Enxergar me leva a uma “cegueira emocional” como se nada disso estivesse acontecendo.
Vários foram os estágios que passei nos 100 dias de isolamento:
- Negação
- Raiva
- Barganha
- Expectativa
- Desamparo
- Apatia
- Solução
A Negação
Falar para mim mesmo, isso é um exagero, é coisa da mídia, não foi difícil, pois na vida, sou um mestre no uso da má-fé comigo mesmo, ou seja: quando não quero ver, sou capaz de furar meus próprios olhos.
A Raiva
Para essa eu tenho uma receita pronta, aquela que eu uso para disfarçar minha impotência quando também me sinto injustiçado. É também um excelente remédio para minha irritabilidade.
A Barganha
Negociar isso é comigo mesmo, prometo me tornar um ser humano melhor, amar mais o meu próximo, nem sempre cumpro, em geral, dou uma desculpa e negocio até com a minha própria culpa, dizendo que não tive tempo.
O Desamparo
Aqui surgem muitas perguntas e quase nenhuma resposta, isso me mata, tenho vontade de largar tudo e sair correndo.
A Apatia
Essa eu conheço bem, é minha alma gêmea, ela sempre arruma desculpa para quase tudo na minha vida, dor de cabeça na hora de namorar, de trabalhar e de estudar Considero também um santo remédio para um preguiçoso mental como eu.
A Solução
Passei a escrever e ler mais, ter mais prazer nas pequenas coisas, valorizar mais a vida, pois descobri que não quero morrer, mas também não posso escapar dessa lei natural que rege a raça humana. Como dizia Heráclito “viver de morte, morrer de viver”, ou seja, a partir do momento do seu nascimento você já começa a morrer.
Essas são as minhas reflexões para os meus 100 dias de isolamento.
Que tal agora você começar a escrever as suas reflexões?
Nosso desafio
Essa é a lista dos estágios que eu vivi nesses 100 dias de isolamento.
Negação – Raiva – Barganha – Expectativa – Desamparo – Apatia – Solução
Agora escreva os estágios que você está vivendo ou viveu.
Escreva agora os seus sentimentos em cada um desses estágios.
Procure refletir sobre eles, entre em contato com suas emoções e, caso elas estejam dificultando seu desenvolvimento e amadurecimento emocional, procure ajuda para melhorar sua qualidade de vida.
Eu acredito que um dia, todos nós, possamos caminhar juntos tentando alcançar um mundo melhor, com ou sem isolamento.
Aqui vai meu conselho: Não deprima. Isso não é para tanto.
São 100 dias de isolamento, tudo provisório, assim espero!
Sebastião Souza
Psicoterapeuta de casais e famílias