Sabe aquela situação em que uma pessoa que nós gostamos, amigo ou parente, passa pela gente e diz “oi, tudo bem?”, continuando a andar, sem parar e esperar pela nossa resposta? Normalmente, sentimos obrigação de responder no “vácuo”, só para não ser mal educado: “Tudo bem, e você?”.
Podemos chamar isto de falsa reciprocidade que, aliás, tem várias facetas:
- a automatização das interações, por meio de ferramentas computacionais, como aplicativos;
- o individualismo, que nos foca em nossa vida pessoal, sendo o outro apenas uma forma de nos referendar como um ser educado e sociável;
- a falta de comprometimento com as relações, com medo da entrega.
- “ficar bem na fita”, usando a conhecida máscara do “politicamente correto”.
Em 1976, o biólogo Robert Trivers nos alertava para a questão do autoengano, ou seja, nos iludimos achando que ludibriamos os outros, muitas vezes inconscientemente, querendo, com tudo isso, criar uma espécie de vantagem social.
A falsa reciprocidade nos relacionamentos interpessoais, conjugais, familiares e profissionais é fonte de adoecimentos físicos, mentais e emocionais. Não são raros os casos de membros de uma família que realizam pactos sigilosos ou guardam segredos de forma recíproca.
Segredos adoecem casamentos e relações. Entre namorados, noivos, para não demonstrarem suas autoestimas baixas, muitos bancam os heróis ou heroínas, mantendo aquela máscara inicial da fase da sedução. Com o passar do tempo, e durante a convivência, muitos personagens ficam ansiosos ou deprimem, por medo de não sustentarem suas representações recíprocas diante dos eventos que precisam ser encarados pelo casal.
No campo profissional não é muito diferente. As pessoas trabalham, apesar dos sofrimentos físicos, mentais e emocionais, muitas vezes por gratidão, outras por dívidas emocionais, a ponto de ultrapassar os próprios limites.
O processo de adoecimento, que ocorre por conta da falsa reciprocidade, tem origem na necessidade, na maioria dos casos, de pessoas evitarem conflitos, como se estes sempre significassem uma ameaça à ruptura do relacionamento. No entanto, eles são a base do processo evolutivo de qualquer organismo vivo.
Costumo dizer que o grande causador desse processo é nossa necessidade constante de sermos vistos como “mocinhos“ do filme, ou seja, de nossas vidas. Ninguém quer fazer o papel de “vilão”.
Conhece alguém que vive essa pseudorreciprocidade? Então, avise-o do perigo que corre, porque ele pode acabar acreditando que esse ser criado, “politicamente correto”, é verdadeiro e não um “impostor”, como de fato é.
Na música “A lista”, do cantor e compositor Oswaldo Montenegro, uma das estrofes traz estas palavras sábias:
Onde você ainda se reconhece
Na foto passada ou no espelho de agora?
Hoje é do jeito que achou que seria
Quantos amigos você jogou fora?
Nunca é tarde para se rever! Sempre é tempo de novas mudanças!
Um grande abraço a todos!
Sebastião Souza