Na primeira parte deste artigo, falamos sobre as situações em que, ao querer ajudar alguém, acabamos metendo os pés pelas mãos. Isto porque desrespeitamos a forma do outro ver e estar no mundo, não acolhendo suas dores. No lugar disto, impomos nossos modelos de bem-estar, nem sempre condizentes com a realidade da pessoa em sofrimento.
Existem formas de prevenir os conflitos, com base no que o outro sente e vive, identificando caminhos que, de fato, ajudem a pessoa em dificuldade. Veja:
1- Saber de que tipo de ajuda a pessoa realmente precisa.
2- Estar sempre atento sobre não ser a medida certa do mundo, nem o único modelo de qualidade de vida.
3- Ajudar sem dar sermões ou fazer recriminações ou, ainda, despejar conselhos que nem sempre se adequam à realidade da pessoa. Ajude com atitudes práticas e observe a reação dela. Por exemplo: não diga que ela precisa ir ao médico. Marque a consulta e esteja à disposição para acompanhá-la no dia.
4- Após duas ou mais tentativas práticas – número que pode variar, dependendo do grau de tolerância de cada pessoa que se quer ajudar -, caso não haja qualquer resposta ou adesão ao que lhe é oferecido, provavelmente significa que o indivíduo não está consciente ou amadurecido emocionalmente para enxergar o que você está propondo.
5- Não tente bancar o salvador da pátria. Essa posição é um dos principais fatores que acabam por transformar a ajuda em conflitos interpessoais. Encaminhe a pessoa a um profissional.
Caso queira, realmente, apoiar o namorado, noivo, amigo, cônjuge ou membro de sua família, lembre-se sempre: cada um tem uma história e sabe o sentido das dores e dos sofrimentos que está vivenciando, algumas vezes de forma consciente, outras vezes não. Aliás, como bem canta Caetano Veloso, em “Dom de Iludir”, cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é.
Transformar dores e sofrimentos em competência é uma grande arte da vida, conhecida como resiliência. Somente quem passa pelo problema pode fazer isso. Então, dê a mão, não carregue no colo.
Não se esqueça de analisar os ecos das dores e sofrimentos do outro em você. Se existirem, procure fechar primeiro essas feridas emocionais que, por ventura, ainda permaneçam abertas. É preciso curá-las. Desta forma, você terá imunidade emocional para abraçar e amar o seu próximo em sofrimento, de maneira autêntica, sem que os conflitos se instalem. Pois quando ajudamos alguém, estamos ajudando a nós mesmos.
Sebastião Souza