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Agressões físicas, verbais e atitudes violentas contra professores não são novidades. Em 1967, o filme “Ao mestre com carinho” tinha como personagem principal o ator Sidney Poitier. A trama se passava na sala de aula com uma turma de adolescentes problemáticos e desajustados socialmente e que, em diversas ocasiões, tratavam seus conflitos com agressões contra o mestre. Ao final da trama, depois de muito vai e vem para conquistar os alunos, o tal professor é agraciado com a aceitação, o reconhecimento e carinho dos estudantes.

Atualmente, vivemos um enredo semelhante, mas longe de um final feliz. Segundo matéria publicada pelo jornal Folha de S. Paulo (17/9/2017), o índice de violência registrado contra professores no Estado São Paulo é assustador e desanimador. Essa realidade está diretamente relacionada ao processo de banalização dos valores éticos, morais, socioeconômicos e culturais.

Bauman (2005) nos apontou, em vários artigos, o perigo de encarar questões vitais com “liquidez”, ou seja, de nos tornarmos uma sociedade “líquida” em que temas voltados às relações humanas sejam banalizados a tal ponto que comportamentos inaceitáveis, de desrespeito ao próximo – de qualquer ordem -, como abuso sexual, violência contra as mulheres, ataques homofóbicos, agressões aos professores, mortes violentas de moradores de rua, sejam encarados como “normais”.

Vivemos em um país onde tudo se justifica e se explica com o que eu denomino de “transferência de responsabilidade líquida”. Em outras palavras, a família diz que o problema é da escola, que não sabe lidar com crianças e adolescentes.  A escola diz que crianças e adolescentes devem aprender em casa os limites, regras, o respeito aos professores.

Talvez uma das grandes justificativas para não enfrentarmos as impotências, a “desesperança aprendida” em nossas vidas banalizadas e a nossa sociedade caótica esteja verbalizada no velho ditado: “O que os olhos não veem, o coração não sente! ”. Indo além e adaptando a frase para a liquidez de nosso tempo, poderíamos dizer “que quanto mais os olhos cegam, mais nos tornamos violentos, agressivos e desumanos uns com os outros.

O filósofo e dramaturgo Jean Paul Sartre foi extremamente assertivo ao afirmar: “Você é responsável pelos atos e atitudes que pratica e também por todas as consequências desses atos e atitudes praticados”. Quando não denunciamos ou nos omitimos ou nos colocamos como vítimas diante das violências, dizendo que não podemos fazer nada, porque esse tema é da família, da sociedade ou da escola, estamos abrindo espaço para um futuro ainda mais sombrio. Essa omissão pode nos levar a pagar um alto preço. A criança, o adolescente que age com violência não está apenas nas camadas sociais de alta vulnerabilidade. Ele pode viver em nossos lares, na casa de nossos vizinhos.

Denuncie sempre todo e qualquer ato de violência indigno à condição humana. Só assim, falando sobre o tema, poderemos mudar o cenário que aí está. Se quisermos mudar alguma coisa, teremos de deixar de lado o comodismo. É preciso debater, encontrar soluções que nos ajudem a enfrentar problemas como a violência nas escolas.

Não teremos uma sociedade melhor e mais justa se permanecermos na nossa zona de conforto. O filme “Ao mestre com carinho” mostra muito bem que sem o esforço do educador e das pessoas que o apoiavam, jamais a turma mudaria seu comportamento. Sem o seu e o meu esforço, nada sairá desse mesmo e preocupante lugar.

Para encerrar esta conversa, meu forte abraço aos mestres.

E um pedido: não desistam, por favor!

Sebastião Souza
Psicoterapeuta de casais e de famílias

Ao mestre, com…. Pancadas?! – A violência líquida nas escolas
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