
Existem vários tipos de pessoas, mas dois tipos me chamam mais a atenção: as que falam e as que fazem. Nada é mais improdutivo do que conviver com pessoas que falam, falam, têm ideias mirabolantes, projetos megalomaníacos e planejamentos para os próximos trinta anos, mas que, no fim, nunca partem para a ação.
Falar sem agir é como enxugar gelo: trabalho inútil. O mais saudável é saber comunicar, o que significa manifestar-se, comportar-se. Toda vez que uma pessoa se comunica, ela transmite um comportamento. No entanto, pessoas que se comunicam, mas não chegam à prática, normalmente estão preservando suas zonas de conforto, para não se comprometer com possíveis fracassos, insucessos e erros, como se nada disso fizesse parte da aprendizagem e de nossa evolução. Preferem enxugar gelo para não sofrer decepções e dores, achando que assim se manterão prevenidos.
A coragem de colocar em prática ideias, emoções, pensamentos e forma de ver e agir no mundo depende muito da ousadia, do arriscar, de lançar-se a esmo em alguns momentos e, principalmente, daquilo que cada um quer para si como projeto de vida.
Falar e falar sem agir – continuar enxugando gelo – é uma forma da pessoa não entrar em contato com seus limites e potencialidades, ou seja, é um processo de auto-sabotagem em que ela nunca testa qual sua real competência pessoal, relacional e profissional nos círculos onde está inserida.
É comum algumas pessoas serem vistas como acima da média, muito inteligentes, profissionais competentes, mas que, na vida pessoal, não consegue fazer nada virar. Por que será? O que está faltando? Prática. Isso mesmo. De nada adianta uma ideia rica se, ao colocá-la em prática, torna-se vazia. Ou de nada adianta uma prática nobre sem uma fundamentação.
Sabemos que para agir frente a determinadas circunstâncias leva-se o tempo necessário entre o estímulo recebido e a reação. Caso a pessoa seja do tipo que mais fala do que age, acontece o que diz o velho ditado: “junta-se a fome com a vontade de comer”. O nosso cérebro é preguiçoso como um todo. Ao falar e não agir, ele fica numa boa, recebe a mensagem, espera a ação. Como ela não vem, os neurônios permanecem “enxugando gelo”, divagando em torno de coisas inúteis que dão menos trabalho.
Lembro-me de um relato de Oscar Schmidt, o “Mão Santa”, jogador brasileiro de basquete, mundialmente conhecido, dizendo que ele não entendia a razão desse apelido, já que ele não tinha “Mão santa”. Pelo contrário: precisava treinar mil arremessos após os treinamentos coletivos.
As pessoas que fazem acontecer, que praticam e treinam suas atividades físicas, de lazer e prazer, as profissionais, e até mesmo nas relações interpessoais, estão mais sujeitas aos desconfortos, dores, frustrações e, em alguns casos, se veem obrigadas a conferir os potenciais dos seus recursos ou entrar em contato com suas limitações diante da realidade nua e crua. Elas se comunicam e fazem as coisas “virarem”.
Já as pessoas que só falam, que vivem no mundo das idealizações, na “terra do nunca”, não quererem crescer, sendo cópias eternas do personagem Peter Pan.
Viver é fazer escolhas a cada momento. Se você está no grupo dos que falam e não agem, existe grande probabilidade de seus projetos pessoais e profissionais já nascerem mortos, ou seja, patinando sobre o gelo que está continuamente enxugando.
Caso você seja uma pessoa que faz acontecer, um verdadeiro comunicador, existe uma grande chance de despertar e desenvolver o magnífico potencial presente nos inúmeros neurônios ociosos que adoram as suas falas e retardam as suas ações só para não ter que trabalhar e se manter na zona de conforto.
Mas lembre-se: sempre é tempo de mudar. O primeiro passo é identificar que tipo de pessoa você é. Para isso, sugiro um exercício simples: divida uma folha de papel ao meio, com um traço vertical. Do lado esquerdo dele, na parte de cima, coloque a palavra “créditos”. No lado direito, também na parte de cima, registre a palavra “débitos”. Use-a semanalmente da seguinte forma: quando falar e não agir, coloque um ponto (negativo) na coluna dos “débitos”; quando falar e agir coloque um ponto (positivo) na coluna dos “créditos”. No final de semana verifique a sua pontuação e veja se você é mais de falar (enxugador de gelo) do que de agir (comunicador).
Enquanto isso, me despeço, porque vou enxugar o gelo que me sobrou do ano passado.
Boa sorte para todos: os comunicadores e os enxugadores.