
Cegos emocionalmente são destinatários. Quando não se sabe aonde se quer chegar, todo lugar é um endereço válido. Barco à deriva também tem destino: o acaso. As balas não são perdidas e, sim, pessoas.
A banalização da vida, a falta de projetos e ausência de sentido não são responsabilidades das balas, mas, de quem as dispara: eu, você, a nossa sociedade narcisista e egoísta, que fecham os olhos aos mais vulneráveis. Estes são os endereços conhecidos.
Quando as balas são disparadas, uma parte da população que se torna público- alvo. É possível dizer que quem mora em área de risco, na encosta de um morro, quando chove forte é alvo preferencial. Crianças e adolescentes de áreas de alta vulnerabilidade social são clientes preferenciais dos praticam atos infracionais pensando no próprio bem-estar.
Não existem balas perdidas, porque os endereços estão corretos e foram minuciosamente conferidos. Balas perdidas é como a performance da chamada “vista cansada”: de tanto ver, não consigo mais enxergar. É uma forma de transformar o visível em invisível. Nossa falta de atitude, de ações contra esse tipo de balas se tornam, na verdade, posturas de má-fé.
O público-alvo é aquele que internaliza que balas perdidas fazem parte do dia a dia, acreditam que é obra do destino, uma construção doentia dos seres humanos.
Atiradores e vítimas participam de uma relação complementar perversa que, inconscientemente, permeia o imaginário social. Os primeiros com o empoderamento que lhes foi conferido em nome da lei do mais esperto. Os segundos por uma subordinação voluntária, de que o mundo sempre foi assim e nada vai mudar.
Não se mexe em arma, nem no alvo quando o atirador marca pontos na competição. O que importa é que a bala encontrou o endereço e alguns saíram vencedores. Quem foi atingido ou não, isso é irrelevante. Os atingidos perdem as esperanças e passam a viver a esmo. Os atiradores treinam tanto para encontrar os endereços certos, que se perdem em si mesmos e vivem desconectados dos próprios “eus”.
Balas não estão perdidas. Pessoas estão cegas, construindo vidas sem sentido, relações conjugais e familiares desprovidas de solidariedade, afeto, amor, acolhimento e compreensão.
Relacionamentos doentios que se tornam alvos em potenciais para os francos atiradores atuarem que, geralmente, não costumam errar, mas quando algo sai errado, dizem quer foi azar ou… Mais uma bala perdida.
Transformar esses processos relacionais, tornando-os mais saudáveis, é uma tarefa daqueles que ainda acreditam em um sistema de educação mais justo, um serviço de saúde com qualidade, que atenda os menos favorecidos, uma maior empregabilidade e garantia de segurança por parte dos responsáveis, para que todos possam ter o direito de ir vir, sem ser atingido por uma bala perdida, com endereço certo. E, você de que lado está? Do lado dos atiradores ou dos que já perderam a esperança?
Este texto não tem pretensão de seguir critérios científicos. Ele é uma argumentação psicológica sobre determinado assunto. Por isso, podemos trabalhar com padrões de probabilidade. Sendo assim, podemos dizer que as chances das balas perdidas atingirem os menos favorecidos são muito altas.
Mas a probabilidade tem seu fundamento no acaso e na complexidade. Nosso tecido social tem apresentado fortes oscilações com relação aos valores éticos e morais. Eu, você, nossos filhos, esposas, familiares e amigos fazemos parte dessa dolorosa constatação estatística.
Você já adquiriu o seu colete ou vestiu a sua armadura blindada para evitar ser atingido pelas balas perdidas oriundas dos processos relacionais patológicos e perversos no casamento, na família, com amigos ou colegas de trabalho?
Balas perdidas nunca estão perdidas. Mais perdido está quem as dispara. Por isso, comece a pensar que balas perdidas, não perdidas, são direcionadas para aqueles que, por não enxergarem a beleza e a magia do dom da vida, acreditam que dividir é melhor do que compartilhar.
Afetivamente você sabe onde mora ou ainda não achou o seu endereço? Sem endereço afetivo suas chances de fazer parte das estatísticas são grandes. O risco de uma bala perdida te encontrar permanece.
A não ser que nos ajude a quebrar essa lógica doentia e incoerente de que a vida é assim mesmo: uns são privilegiados por já nasceram assim e outros, infelizmente, não tiveram a mesma sorte.
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