Nascemos humanos e nos tornamos santos, na expectativa de que milagres aconteçam.
Aqui, “santo” significa aquela pessoa que quer fazer algo além das condições humanas. Sobrepor os nossos desejos aos dados da realidade nua e crua é ou não é construir um esforço milagroso na esperança e vontade de sermos reconhecidos e referendados pelos nossos entes queridos?
A nossa condição humana nos oferece um vasto campo para alargar nossas experiências do dia a dia. Ir, além disto, é nos tornar milagrosos. São os nossos lastros históricos familiares e individuais que nos fazem enxergar as reais possibilidades na vida. É comum conhecermos pessoas que dedicam vidas inteiras na intenção de fazer com que parceiros, filhos, amigos, irmãos, pais, ou outros entes queridos, mudem, evoluam para uma qualidade de vida melhor, evitando sofrimentos significativos para a própria pessoa ou para os seus, como se fosse possível. Ou seja, esperam que milagres aconteçam.
Essas pessoas, em geral, fazem tantos esforços que elas mesmas acabam por acreditar que são especiais. Como se pudessem levar os outros a enxergar e agir a partir daquilo que acreditam possuir, os tais dons especiais. Uma maldição do conhecimento: se eu enxergo assim, porque aquelas pessoas que amo também não enxergam da mesma forma? Isto é bancar o santo e esperar milagre.
A maldição do conhecimento é um termo usado por Steven Pinker em seu livro “Guia de escrita”, no qual relata a dificuldade de certos indivíduos possuidores de algum conhecimento, em imaginar que o outro não consegue perceber algo que eles percebem. Pessoas que passam a vida tentando fazer milagres, sendo boazinhas com doação total, porque têm esperança de um dia se tornarem santas. No entanto, quando esses esforços vão para além do natural, ao esgotarem os pseudomilagres, serão taxadas de fingidas, falsas e, às vezes, banidas dos círculos dos pares, como mentirosos que usaram a ingenuidade dos sedentos por algo especial.
Em outras palavras, uma vez que você não é santo, não faz milagres e não vai ser canonizado, até porque ainda não morreu, os desejos de fazê-los podem acabar com sua imagem.
Exemplo: uma pessoa dedicada a ajudar alguém a curar uma doença cientificamente incurável, sem tomar remédio. Milagres existem, mas nunca podem ser auto referendados. Eles são conferidos a pessoas que praticaram boas ações por autoridades religiosas competentes.
Bancar o santo é perigoso e pode ser uma forma de se esconder da realidade. Quantas relações entre marido e mulher, em que um se esconde atrás do outro, na expectativa de algum dia as coisas melhorarem, tem uma vida com os filhos que é um inferno?
Viver como um santo é, de certa forma, distorcer a realidade. Todos têm um lado santo, quando realizamos boas ações para o próximo, porém, quando nos escondemos da vida, não há como garantir santificação futura.
Os santos foram pessoas abnegadas, verdadeiras almas doadoras e reconhecidas como realizadoras de ações que, aos olhos dos homens, pareciam impossíveis. Não é abrindo mão do que sentimos e pensamos que os milagres vão acontecer. Pelo contrário. Estar de corpo e alma no enfrentamento de nossas missões diárias, com atitudes e comportamentos dignos, marcará o nosso desenvolvimento e evolução permanentes, tornando-nos pessoas melhores.
Santo ou não santo, todos somos privilegiados frente a dom da vida. Por isso, curta, seja feliz! Este é o maior milagre que você pode ser para você hoje.
Para concluir, no final de ano faça uma lista das boas ações praticadas em 2016. Considere como seus milagres, afinal, o mundo está cheio de gente egoísta que se diz santa.
Planeje para o ano vindouro uma lista de boas ações que poderá praticar, que serão admiradas e reconhecidas por aqueles que verdadeiramente amam você. No final, é isso o que conta: ser amado e aceito, sem nunca deixar de ser você.