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Na primeira parte deste artigo apresentamos a chantagem como uma estratégia usada na política e em muitas relações familiares. Um exemplo disto são os filhos que odeiam o pai ou mãe porque um ou outro foi infiel no casamento. Esse sentimento de ódio deveria partir da pessoa que se sentiu traída e não dos filhos, mas acaba se tornando uma dívida emocional impagável, uma vez que a relação entre um homem e mulher deve ser resolvida entre eles, e não na base da chantagem dos filhos, que utilizam como desculpa a situação não resolvida de seus pais.

É notório saber que boa parte dos políticos não tem simpatia por ninguém a não ser pelo poder. Um ensinamento, que passa de geração a geração, diz que “você poderá até ver um político segurar na alça do caixão de um colega, mas nunca verá um político descer junto com defunto ao túmulo”.

As relações de compromissos e comprometimentos entre políticos funciona de acordo com a célebre frase citada em alguns rituais de casamentos, “até que a morte os separe”.

No cenário político, os tramites das chantagens e negociações funcionam em tempo real. Em um segundo após algo divulgado, algo é negado e não vale mais, sendo considerado passado, ou seja, “rei morto, rei posto”. É quase imediata a substituição do governante morto para que as negociatas escusas não parem.

Na vida familiar, conjugal ou interpessoal não é muito diferente. Quando estamos chantageando emocionalmente alguém ou estamos nos deixando chantagear, nada muda. O “modus operandi” é o mesmo dos políticos que só pensam no próprio bem-estar, usando o outro como uma ponte para atingir seus objetivos. Quando chantageamos, queremos nos manter no poder, seja como chantagista que domina ou como o que “banca a vítima” e, com isso, controla os processos familiares, conjugais e as relações interpessoais, sem que as pessoas envolvidas percebam.

O chantagista familiar e o político são almas gêmeas. Não se importam com os males que estão causando, seja ao pai, à mãe, ao marido, aos amigos ou ao povo. O que importa é que essa forma de vida lhe traga status financeiro ou social e que o torne o centro do mundo nas suas percepções.

Na compreensão dos leigos, aqueles pais, maridos e amigos que se deixam chantagear “são vítimas”, mas a dinâmica não é tão simples assim. Boa parte  das pessoas chantageadas não quer sair das áreas de confortos, ou seja, tem vantagens em se manter nessa posição.

Não raro encontrarmos, em algumas famílias, aquele chantagista que denominamos de “vítima dominadora” e que tem um grupo de pessoas à sua volta que usufrui  de diversas vantagens.    

É comum nesse grupo encontrarmos pessoas pouco assertivas, que não sabem dizer não, evitando conflitos e mudanças. Não querem desagradar o outro, passam por “bonzinhos”, “querem ficar bem na fita”.

O chantagista familiar funciona como um “vampiro emocional”, sugando os familiares, como o parasita do hospedeiro, até vê-los em um processo destrutivo ou autodestrutivo, sem forças para reagirem.

Em alguns casos, os familiares, sem perceber, delegam para esse “vampiro emocional” responsabilidades que comprometem toda a estrutura familiar e grandes negócios, ou seja, dão a direção do “banco de sangue” para o vampiro administrar.

Por último, e não menos importante, chantagens no meio político ou nas relações familiares, conjugais e nas relações pessoais e interpessoais são sempre um ato de auto sabotagem, tanto para aquele que chantageia como para a pessoa que se deixa chantagear.

De um modo geral, todo chantagista mente para si mesmo e sabe, consciente ou inconscientemente, aproveitar-se das fragilidades e vulnerabilidades alheias para vender uma imagem de todo poderoso.

É como se diz nas rodas de botequim: “ruim com ele, pior sem ele”, e assim a vida segue na política e nas famílias. Reza a lenda que cada povo tem o representante que merece. Nas demais relações também acontece dessa forma: “cada um tem os familiares, cônjuges e amigos que merece“. Será?

A cantora Alcione interpretando a música “Garoto maroto”, traduz muito bem nossa conversa de hoje com a parte da letra que diz: “Você faz de conta que quer meu perdão, mas depois apronta, no meu coração…”.

Às vezes o coração se deixar enganar. Votamos por paixões e amamos sem termos razão de amar. Só tem um jeito: pagar para ver.

Não faça chantagem e não se deixe chantagear. Esta atitude pode ser uma das formas de nos tornamos mais autênticos com nossos sentimentos, não importando o que isto quer dizer.

Como está a autenticidade de seus sentimentos nas suas relações com os políticos e familiares, cônjuges, namorados e nas relações interpessoais?

Pense nisso: o uso da chantagem pode ser um verdadeiro “tiro no pé”.

Um abraço a todos e até a próxima semana!

Chantagem política e familiar: dois modelos perversos de convivência humana – parte 2
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