
É comum escutar pessoas que reclamam por repetirem os mesmos erros do passado. Chegam a dizer: “Será que não vou aprender nunca?”.
Quando se trata de relacionamento amoroso, alguns utilizam a expressão: “Troquei seis por meia dúzia”. Como fazer para evitar a repetição de erros nos nossos projetos de vida pessoal, nas relações interpessoais, conjugais, familiares, com amigos e como profissionais?
Precisamos conhecer “os gatilhos”, ou seja, as provocações, insinuações, rejeições, desqualificações, autoritarismo, preconceitos, julgamentos maldosos, ou seja, tudo que dispara, em nosso estado físico e mental/emocional, a sensação de não nos sentirmos amados, aceitos e acolhidos.
Esses “gatilhos”, em geral, são feridas entreabertas e sequelas de questões não resolvidas nas nossas famílias de origem ou em gerações anteriores. As experiências vividas na infância, adolescência e durante nossa vida podem marcar eventos saudáveis, prazerosos, mas, também, conflitos inerentes à condição humana, que nos levam a desenvolver mecanismos de defesa para nossa sobrevivência.
UM EXEMPLO
Criança que nasce em lar desestruturado onde um dos pais ou cuidadores faz uso abusivo de álcool, levando à violência física. Essa criança, para sobreviver ao desamparo, à desproteção e, até mesmo, suportar a violência, tende a desenvolver um quadro de autoestima baixa, falta de assertividade, medo de ousar ou até tornar-se uma pessoa violenta.
Experiências traumáticas quase sempre deixam sequelas e marcas invisíveis em áreas afetivas, tornando-as sensíveis e suscetíveis. Com o passar do tempo, podem se transformar em “gatilhos” disparadores de nossos conflitos emocionais nos diversos contextos em que estamos inseridos.
Ao nos reconhecermos a partir de nossas origens, identificando as questões que não foram resolvidas com nossos pais, avós, irmãos e entes queridos, sem culpabilizá-los, mas para compreender o contexto relacional em que vivíamos, podemos tentar reconstruir e ressignificar nossas histórias com essas pessoas – e até perdoá-las por suas “cegueiras emocionais”. Essa é a melhor forma de aprender com as experiências passadas, nos tornando seres mais imunes emocionalmente, transformando sofrimento em competência.
Os “gatilhos” dos conflitos emocionais perdem a força de nos tirar de nossa centralidade ao adquirimos maior resiliência, por meio da nossa imunidade emocional.
Reconhecer nossos “gatilhos” é ganhar qualidade de vida. Em outras palavras, é viver o velho ditado: “Quando um não quer, dois não brigam”. Brigamos, nos incomodamos, compramos conflitos emocionais que algumas vezes não são nossos, porque as pessoas nos provocam, cruzando essas provocações com questões anteriores, não resolvidas.
Ao limparmos as questões passadas, vamos disparar outros “gatilhos”, desta vez de amor, carinho, solidariedade e compreensão para com aquele próximo que, muitas vezes, mesmo sem saber, fica a enfiar o dedo nas feridas alheias, por não se dar conta de olhar para a própria ferida.
Faça uma lista de cinco sentimentos que você acredita que o levam a disparar seus “gatilhos”, gerando desconforto, desprazer, dores físicas e mentais/emocionais. Construa um plano, com metas concretas, para eliminá-los nos próximos doze meses.
Lembre-se: o outro pode até atirar em você, mas ele só irá acertá-lo se seus “gatilhos” não estiverem imunes.
Até a próxima semana!
Sebastião Souza