Em conversa com amigos preocupados com a pandemia do COVID-19, incêndios no pantanal e na Amazônia e, de um modo geral, o aumento do índice da violência, todos questionavam: QUE PAÍS É ESTE? – Sant’Anna, 1980 (1).
(1) Affonso Romano de Sant’Anna autor do poema “Que País é Este?”, escrito em 1980. A obra é uma crítica a nossa sabedoria popular repetida há 500 anos.
O poeta discorre em das estrofes do poema: “Uma coisa é um País, outra o aviltamento”.
Em uma outra parte do poema relata:
“Há 500 anos caçamos índios e operários,
há 500 anos queimamos árvores e hereges,
há 500 anos estupramos livros e mulheres,
há 500 anos sugamos negras e aluguéis”.
E, em nossa roda de amigos, perguntávamos se a insensatez não é irmã gêmea da ignorância, o que mudou?
Transformamos estudos e pesquisas científicas em alvo de “chacota e piadas”, minimizando a gravidade da pandemia do COVID-19, dizendo ser apenas uma “gripezinha”.
Atribuímos aos indígenas, eternos guardiões das florestas, a culpa pelos diversos incêndios, no pantanal e na Amazônia, para não assumirmos as nossas reais responsabilidades pela destruição do meio ambiente.
Mulheres e negros são discriminados como se não fizessem parte deste País.
Que País é este, onde uma mulher sofre ameaças de morte, podendo evoluir para homicídio, enquanto os verdadeiros responsáveis, os que deveriam prestar o auxílio fazem pouco caso, quando a vítima vai registrar um boletim de ocorrência, e dizem “é assim mesmo, é só uma briguinha de casal”.
Que País é este, onde as autoridade responsáveis por zelar pelas pessoas contaminada pelo COVID-19, dispensadas da necessidade de se realizar licitações, descobrem meios de tirar vantagens na compra de respiradores e construções de hospitais de campanha, que são absolutamente necessários para salvar vidas.
Quanta insensatez ou ignorância. Agora nem sei mais qual das duas “qualidades” é a mais significativa neste contexto.
Que País é este, que tem um mandatário, um chefe de uma nação que faz um pronunciamento dizendo: “Os indígenas estão destruindo suas moradias e suas fontes de sobrevivência”.
Que País é este, onde, depois de mais de 500 anos, ainda escutamos uma autoridade dizer que uma orientação sexual é fruto de famílias desajustadas.
Nesse caso, a insensatez é tanta, que acaba realçando os ranços da nossa cultura machista, atribuindo ás famílias o peso de culpas absolutamente desnecessárias, enquanto especialistas e cientistas, do mundo todo, refutam tal hipótese.
Algo deve estar equivocado, o que mudou?
A ignorância está superando a insensatez ou ambas estão competindo para ver qual delas vai ganhar o prêmio de “A razão mais insensível do Ano de 2020”.
Este é o País de 500 anos atrás e será o mesmo nos próximos 100 anos, se não aproveitarmos o momento para mudarmos nossas crenças com relação aos diversos problemas e catástrofes que assolam a nossa nação.
Todos somos corresponsáveis, pela disseminação do vírus COVID-19, pelos incêndios no pantanal e na Amazônia, e pelo aumento da violência de um modo geral.
Cabe a cada um de nós questionarmos sobre que País queremos legar aos nossos filhos, netos e bisnetos nos próximos 100 anos.
O que podemos fazer?
Podemos tentar incutir, em nossos descendentes, a preocupação com ele próprio e com o próximo.
Um professor de filosofia, Cláudio Upiano, me disse uma vez, que isso, só vai mudar no dia, em que uma turma de “pirralhos” do jardim da infância, percebendo que a professora continua dando aula, começarem a bater os seus pezinhos no chão avisando que está na hora do lanche.
Procure ensinar seus filhos, netos e bisnetos a não deixarem a insensatez e a ignorância fazerem parte de suas vidas.
Procure ajudá-los, por meio de conversas, filmes, livros, fábulas, metáforas, histórias e analogias, para que possam encontrar o verdadeiro sentido da solidariedade humana.
Não espere, comece agora. Se possível para ontem. Desculpa, esqueci de mencionar que a insensatez e a irmã gêmea da ignorância, mas tem um grau de parentesco forte com “ervas daninhas”, que se alastram com rapidez em direção aos corações insensíveis á dor do próximo.
Cuide-se!
Sebastião Souza
Psicoterapeuta de casais e famílias