Nas famílias e nos casamentos, o velho ditado “cada macaco no seu galho” não se aplica. O princípio da convivência humana são os processos interacionais. Sem eles, não existem conhecimento, desenvolvimento e evolução e os relacionamentos pessoais, interpessoais e profissionais se tornam grupos provisórios, sem comprometimentos e responsabilidades.
Nas famílias e nos casamentos, quando o pai, a mãe ou cônjuges resolvem cada um ficar no seu canto (galho), para não mexer nas velhas mágoas e ressentimentos, alguém vai “pagar o pato”: filhos ou um dos pais.
Ficar cada um no seu galho, no sentido de não querer envolver-se, não se entregar, ou até mesmo desenvolver uma forma de vida inautêntica, por meio de máscaras ou couraças emocionais, é prorrogar uma conta que com certeza será cobrada no futuro.
Diante de dores e sofrimentos, a tendência do ser humano é fugir, como forma de evitar os desprazeres e desconfortos, e, algumas vezes, procurar o isolamento afetivo e social para quebrar o “galho”, na esperança de que o tempo resolva aquela situação que a pessoa não está conseguindo encarar no momento.
Não é raro encontrar cônjuges ou filhos como pacientes identificados sendo colocados na posição de “depositário” das situações não resolvidas entre cônjuges ou familiares. Em geral, essas questões tornam-se lixos emocionais que deveriam ser reciclados por meio do perdão, do pedido de desculpas.
A restauração ou o ressarcir dos malefícios ou mal-estar que uma pessoa causa a outra deveria ocorrer com o coração limpo, porém não é o que normalmente acontece. Na maioria das vezes, o que surge é a rigidez, o ódio e as mágoas que congelam as emoções doloridas daquele momento, fazendo com que cada pessoa tente se isolar, como forma de proteção, no seu “galho”.
Um exemplo: a família tem um (a) filho (a) dependente químico (a). Em geral, esse núcleo familiar possui um ou mais membros “viciados” em outras coisas, mantendo-se entorpecidos, como o pai, que é um workaholic, ou a mãe, que toma remédios para dormir. Porém, esse (a) filho (a) é o “depositário” de toda a dinâmica familiar mal resolvida. Em outras palavras, o pai diz: “Trabalho muito, faço a minha parte, pago o tratamento. Ele é que precisa ter força vontade e melhorar. Ele é que tem de fazer a parte dele”. Já a fala da mãe é mais ou menos assim: “O meu remédio foi receitado pelo médico e uma coisa não tem nada a ver com a outra. Ele precisa acreditar mais nele e se esforçar e ter mais fé”.
Ao fazer uma leitura dessa situação usando analogias, o filho é o “galho frágil” e os pais são aqueles que estão pesados de ressentimentos não resolvidos. A família precisa construir uma compreensão mais abrangente, percebendo que o problema é de todos e não somente do filho, porque nessas relações o velho ditado “cada macaco no seu galho” não se aplica.
Faça uma pequena lista enumerando cinco itens relacionados aos problemas de sua família. Dê, sinceramente, uma nota de 0 a 5 mostrando qual o seu envolvimento nessas questões, nas decisões, escolhas e colaborações para resolvê-los. Depois conclua se você está no seu galho ou se você faz parte da árvore como um todo.
Tome cuidado! Caso você fique pesado de ódio, raiva e ressentimento, o galho pode se romper ou, ainda, alguém que você ama pagar o “pato”.
Boa sorte e lembre-se: em famílias e casamentos, o problema de um é problema de todos.
Sebastião Souza