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Os rios nascem e morrem como nós. Todo ser humano tem uma história. Todos rios têm seus percursos. Para sobreviver, precisamos respeitar nossas limitações históricas. Ao que tudo indica, os rios são mais sábios. Quando impedidos de seguir seus percursos, procuram evitar e desviar das circunstâncias e dos obstáculos que a natureza e os predadores humanos lhes impõem, sob o risco de as águas paradas se tornarem lagos sujos e depósitos de lixo, transmissores de doenças.

Na vida não é muito diferente. Nossas histórias nos permitem vivermos algumas experiências relacionais possíveis. As impossíveis ficam por conta das resistências a mudanças frente às vicissitudes e aos eventos previsíveis e imprevisíveis que a condição humana nos impõe.

Resistir a mudanças é como impedir que o rio siga o seu curso. Elas irão acontecer, independentemente de nossas vontades. O rio adoece porque é impedido de seguir sua tarefa de irrigar os solos por onde passa, entristecendo-se, tendendo a secar.

Quando não respeitamos os limites das nossas histórias e insistimos em não mudar, relutando a adaptarmo-nos a situações que estamos vivendo, nos tornamos seres humanos apáticos, sem sentido na vida, para, em seguida, adoecermos.

Exemplo: uma pessoa insiste em um casamento sem amor, afeto, admiração e desejo, porque acredita no velho ditado “ruim com ele pior sem ele”. Essa pessoa pode não perceber, mas seu organismo a denuncia por meio de vários sintomas, como desânimo, ansiedade, depressão, doenças psicossomáticas, podendo, algumas vezes, ter atitudes que a colocam em risco.

As escolhas do rio não são livres. Sua sabedoria está em descobrir como contornar os obstáculos e seguir em frente, exceto quando as mãos humanas interferem.

Por outro lado, na vida, as escolhas são livres, porém limitadas por nossas experiências familiares, conjugais e pessoais. Não aceitar essa condição é criar um projeto de vida usando de má-fé. A sua história é você, por isso, não brigue como você mesmo. Seja seu melhor parceiro e perdoe-se por aquilo que você não se permitiu enxergar. Este é o melhor sinal de mudança.

Nossas histórias são nossos comportamentos colocados em ações (Bateson, 1972).

Conduzir a vida como se nosso maior inimigo estivesse lá fora, e não dentro de nós, é o mesmo que resistir em aceitar que nossas experiências emocionais não nos deixam ver os “pontos cegos”, capazes de nos entorpecer e nos embriagar diante das mudanças que temos de fazer e que virão pela frente.

Em algumas famílias e casamentos, as pessoas não percebem que suas escolhas prematuras, ingênuas, doentias podem estar desatualizadas e desadaptadas. Insistem em não mudá-las por imaginar que irão piorar e, então preservam o que acham certo, apesar de se sentirem, algumas vezes, doentes organicamente e, outras vezes, enfermos na alma (psique).

Não existem garantias nas mudanças. A construção de um lugar saudável, com alicerce básico para uma vida melhor, nada mais é do que aquilo que você viveu, vive e das transformações que pretende realizar a partir do emaranhado de escolhas que terá que fazer para encontrar-se na sua história. É algo semelhante ao mito do eterno retorno.

Mudar, ser livre, ter maior autonomia não são atitudes para quem resiste ao novo e, sim, para quem assimila o velho, fazendo uma síntese com o novo.

A mudança exige construir um ser humano cada vez mais competente, que procure adequar seus sentimentos, intuições e sensibilidades com aquilo que o mudo externo lhe oferece.

Se você é daquelas pessoas que têm dificuldade de mudar ou fazer escolhas, mesmo que elas não sejam totalmente livres, pense: quando o ser humano coloca a mão para interferir no curso do rio, este sofre adoece e morre, por não conseguir explorar todas as suas possibilidades. Por não ter opção. A você, no entanto, só não é dada a opção da escolha do dia e a forma da morte. Sofrer e adoecer podem estar correlacionados à sua resistência a mudanças necessárias, mostradas pelas circunstâncias da vida.

Escolher não mudar pode estar amparado no velho ditado “quem espera sempre alcança”. Particularmente prefiro a versão contemporânea: “quem espera se cansa”.

Imagino que só deseja ser virtuoso em relação a sua vida e a dos demais com quem convive aquele que se lança.

Em síntese, ou você muda sua vida ou a vida muda você.

Afinal, você não é um rio. Ou é?

Grande abraço e até a próxima semana!

 

Na vida, como nos rios, as mudanças são necessárias
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