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Algumas espécies de animais conseguem diminuir o ritmo de seu metabolismo para fingir que estão mortos, com o objetivo de se preservarem.
O jacaré é uma delas.

No caso do ser humano, quando ele passa por algumas experiências traumáticas não resolvidas, e tenta reduzir o contato com seu corpo e suas emoções para não sofrer, ele geralmente adoece. Ou seja, anestesiar, congelar ou fingir que não sentimos dores, desconfortos e desprazeres é um convite ao adoecimento do nosso organismo.

Jacarés usam esse mecanismo para sobreviver nos períodos de escassez de alimentos ou quando se sentem ameaçados. Quando superam essas situações, voltam ao ritmo cotidiano: caçam, nadam, tomam banho de sol, namoram e se proliferam.

Já o ser humano, por sua vez, para se preservar e sobreviver, cria mecanismos de defesa, desenvolvendo “couraças emocionais” geradoras de insensibilidade a dores, levando à doença e não à preservação.

“Fingir de morto”, organicamente, para o jacaré, faz parte da sua organização biológica. “Fingir de morto” para o ser humano é uma mutilação de suas potencialidades corporais e emocionais.
Algumas pessoas que sofrem decepções, rejeições, desamparos e desproteção nas relações afetivas tendem a “congelar” suas emoções a ponto de se desconectarem de si mesmas.

Um exemplo são os abusos emocionais, sexuais, violência verbal ou física sofridos na infância ou adolescência. A pessoa promete a si mesma nunca mais sentir nada, passando a viver como um zumbi. Outro exemplo é o da pessoa vítima de uma doença grave, que promete a si mesmo cuidar do corpo e age de maneira obcecada, esquecendo-se de que se manter “sarado” não vai livrá-lo das dores da mente.

Pessoas e jacarés são semelhantes porque precisam sobreviver e preservar-se. Porém, ao imitarmos os jacarés, “fingindo estar mortos emocionalmente”, criamos uma armadilha para nosso mecanismo mental, que não consegue fazer a distinção entre o que é “fingir” e construir uma barreira emocional para sobreviver.

O nosso mecanismo cerebral funciona semelhante ao “efeito borboleta”. Ele recebe e repassa a mensagem “fingir que nunca mais vai sofrer” às demais partes do cérebro. O cérebro, então, começa a construir conexões sinápticas e neuronais para atender a solicitação. Com isso, aquele que guarda mágoas, raivas, preconceitos, não consegue fingir por muito tempo que está tudo bem, que é da paz e não tem qualquer rancor.  De repente, essas experiências não resolvidas vêm à tona, tornando-o agressivo e hostil por conta dessa dor emocional.

O organismo em sua totalidade funciona de forma sincronizada, ou seja, não para de sentir. Se o corpo não sente, então a mente não processa. Por isso, em nossa vida, encontramos pessoas emocionalmente estéreis. Adoecem e dizem que não sabem por quê. Talvez estejam imitando os jacarés. Mal sabem elas que o jacaré não tem alternativa: ou finge de morto ou morre. Nós, ao fingirmos de mortos emocionalmente, estamos pedindo para adoecer.

Eu e você não somos jacarés. Por isso, temos que continuar nadando, às vezes a favor da correnteza, outras vezes, contra ela. No entanto, uma coisa é certa: de tanto “fazer de conta” nas nossas relações, evitando contato com nossas emoções, fica difícil identificar qual couraça está mais enrijecida: as dos jacarés ou as nossas.

Pensando que o jacaré arma sua couraça, mas, depois, sentindo-se seguro, se desfaz dela, quero propor uma maneira de “amolecer” as suas defesas:

Convide uma pessoa que te seja querida e que faça você se sentir bem para um encontro. 
Pode ser um café, um drink ou passeio. 
Entregue-se totalmente a esse momento e curta ao máximo o que puder. 
Ao final, analise o que aprendeu, o que foi desbloqueado de sua “couraça emocional”.

Não deve ser tão difícil, afinal, os jacarés fazem isso o tempo todo.

Bom teste!

Pessoas adoecem, jacarés se preservam
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