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Em caso de naufrágio, prescreve a norma da navegação: o último a abandonar o navio é o comandante. No entanto, nem sempre é isso que acontece.

Nos casamentos ou nas famílias, quando a maré fica agitada (cheia de conflitos), é comum cada um tentar se salvar como pode. Esse tipo de sobrevivência solitária nem sempre segue as normas da boa convivência.

As relações conjugais ou familiares, quando vistas metaforicamente como embarcações carregadas de conflitos, acabam por tornar inegociáveis ou “inavegáveis” o lado saudável dos envolvidos.

Em geral, um dos cônjuges, ao se sentir magoado, traído ou injustiçado, pula do barco ainda em movimento, isentando-se das obrigações e compromissos para com o outro cônjuge ou demais membros da família, esquecendo e negando o papel dessas pessoas na construção de sua história. Ou seja, é a lei do salve-se quem puder.

Em se tratando de casamento, ocorrem retaliações, vinganças, raivas, ódio, desprezos e, até mesmo, agressões físicas e verbais, típicos de quem não assume que os comandantes da embarcação, os que conduziam a relação, estavam perdidos, sem bússola.

No matrimônio, na vida pessoal ou profissional, se o indivíduo navega sem destino, o porto seguro desejado se torna inalcançável. Viver nossas relações conjugais, interpessoais e profissionais sem um projeto que defina ponto de partida e ponto de chegada é um forma de autossabotagem.

Traçar ou não traçar metas, foco e objetivos é que nos vai conferir, na prática, se temos competência ou não para pilotar nossas vidas.

O mesmo acontece nas famílias. Quando os conflitos, as ondas turbulentas, começam a aparecer, sejam pelos desentendimentos conjugais, sejam pelas relações parentais, na maioria das vezes, cada um tenta pegar um salva-vidas para “pular fora”, antes que o barco afunde. Normalmente, os salva-vidas são meras ilusões, como alguém que o desertor imagina existir em outro lugar fora da família, em um possível mar calmo, sem agitações. Puro engano. Isto porque o mar de conflitos, em geral, está no parceiro ou em alguém da família, que nós, profissionais, denominamos de paciente identificado, mas, também, está dentro de cada um. Ou seja, somos parte ativa do conflito, das tempestades.

Quem deseja ter uma vida autêntica, harmônica, com relações amorosas e afetivas de qualidade, não pode deixar de prever ondas agitadas regidas por desentendimentos, em determinadas fases da vida. Se as pessoas não tiverem essa maturidade – de que tempestades existem em meio a calmarias – não conseguirão pilotar a menor das embarcações que levam cargas de alegria, felicidade, paz e, ao mesmo tempo, malas de frustrações, baús de fracassos, insucessos e impotências.

O bom piloto é aquele que aprende a navegar tanto em mar calmo como em mar revolto. Por isso, valem as perguntas:

Como estão as suas habilidades para pilotar seu casamento e sua família?

Sua “carteira de habilitação” está vencida?

Você tem pensado em pular fora, mesmo sendo um dos comandantes dessa embarcação?

Ou já começou a repensar e se conscientizar que piloto competente é o que aprende a navegar em mares também desconhecidos?

Que tal um exercício para saber como está a sua habilidade de pilotar as relações?

  • Trace uma linha do tempo para seu casamento e outra para sua família.
  • Identifique pontos de partida e pontos de chegada de suas viagens.
  • Verifique de que maneira estava o contexto à época: mar agitado (contextos difíceis), embarcação defeituosa (construção da relação), pilotos inexperientes.

Talvez o grande diferencial entre uma viagem com qualidade e outra conflituosa não seja o mar revolto, mas, sim, a falta de habilidade dos pilotos em manejar o leme das embarcações, ou seja, as nossas relações interpessoais, conjugais e familiares.

Nunca se esqueça: não existe porto seguro fora de você.

Boa viagem!

Sebastião Souza

Casamento ou família à deriva: quem será o porto seguro?
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