Parafraseando um jargão do mundo corporativo, que diz “dinheiro não leva desaforo para casa”, é possível afirmar que “saúde também não”.
Nestes tempos de crise econômica, o trabalhador “é quem paga o pato”. Pato caro esse, não? Cobrado com moedas podres, traduzidas por diversos distúrbios emocionais como: depressão, ansiedade, hipertensão arterial, diabetes, insônia…
Enfim, trabalhar é necessário, mas receber como pagamento complicações na saúde física e mental não nos parece justo.
Segundo o psiquiatra Marcelo Peixoto, “30% da população paulistana sofre de algum transtorno emocional contra 23 % da população de Nova York” (O Estado de S. Paulo, 16/07/2017). O psiquiatra relata que o fenômeno downsizing (enxugamento das equipes) tem contribuído significativamente para o aumento da presença de altos executivos no seu consultório, com distúrbios emocionais e mentais.
O grau de estresse a que são submetidos os trabalhadores nesses tempos difíceis deixam seu sistema de saúde físico e mental em frangalhos, fazendo com que seus organismos vivam em alerta por 24 horas. Este é um cofator para o desencadeamento de quadros de ansiedade, muitas vezes evoluindo para fobias, síndrome do pânico, depressões, insônia, dentre outros sintomas, chegando, até, a doenças psicossomáticas e autoimunes.
Quando começa a apresentar os primeiros sinais de adoecimento, a pessoa é olhada com desconfiança. A queda de produtividade e possíveis afastamentos do trabalho para consultas exigem a apresentação de atestados médicos para justificar faltas, o que, muitas vezes, macula o currículo.
O trabalhador, geralmente, só pede ajuda quando não consegue mais esconder a gravidade do seu problema. O uso de ansiolíticos, antidepressivos, álcool e outras drogas, para continuar trabalhando e cumprindo metas, pode colocar a vida do trabalhador e de pessoas a sua volta em risco.
Imagine um piloto de avião, com fadiga crônica, tomando remédios por conta própria. Quando seu organismo sucumbir, torça para que ele não seja o piloto de seu voo. Por isso, trabalhar é preciso. Ter qualidade de vida também.
As pessoas muitas vezes se perguntam se estão ou não se excedendo, se há, de fato, sobrecarga de trabalho e de responsabilidades. Segundo Freud (1926), “um ser se torna neurótico quando os estímulos externos passam a estar inocorrentes com os estímulos internos.”
Quando o seu trabalho começa a lhe tirar o sono, o prazer, precisando se desconectar de suas emoções para ganhar seus proventos, provavelmente seu salário está sendo pago com moedas pobres que vão prejudicar a sua saúde física/mental e a dos seus familiares.
Antes que isso aconteça, que tal refletir sobre a qualidade de sua vida, tanto na família como no trabalho? Verifique se o preço que você está pagando vale a pena.
Pare, tente, se reinvente, recrie… Aproveite a vida da melhor maneira que puder. A única moeda válida para uma existência com qualidade é a do carinho, da aceitação e do amor que você tem por si mesmo (a) e pelo seu próximo.
Por isso, desejo uma boa dose de saúde a todos os trabalhadores deste país, mesmo nestes tempos de muita dificuldade. É preciso resistir e viver bem!
Sebastião Souza
Psicoterapeuta de casais e de famílias