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Ando muito preocupado com este tema. Sim, porque as consequências desse tipo de violência não atingem só as mulheres, mas seus filhos também. Referência complexa e negativa para quem um dia será adulto.

Mas de onde vem essa vontade de bater, de castigar, de humilhar que rege algumas relações de homens com suas companheiras?

A violência contra as mulheres é um fenômeno complexo e estrutural e não está relacionado ao nosso jeito de ser. Se fosse assim, seria natural aceitá-la como parte de uma formação histórica e social de determinado grupo. O que é natural não tem como ser evitado ou prevenido, mas o comportamento com base na cultura de uma sociedade é construído e apreendido. Portanto, pode ser transformado e desconstruído.

Quando vemos o tema sendo abordado, por exemplo, por uma emissora de TV, a conotação dada ao fato mais parece propaganda enganosa. Os enredos usados nas novelas estão muito mais a serviço da audiência, mostrando cenas de abusos, estupros e espancamentos contra as mulheres, do que à conscientização e mudanças de hábitos.

Pense bem: ao ver essas cenas expostas, como devem se sentir mulheres que vivenciam esses horrores na própria pele?

Denunciar e punir são essenciais para o enfrentamento do problema, mas, o que fazer para prevenir, para evitar que cenas de novela não continuem acontecendo na vida real de mães, esposas, profissionais… Seres humanos como eu e você?

O que podemos fazer para acabar com esse horror?

Nós, que abominamos esse tipo de comportamento, que somos pessoas reais, precisamos combater essa visão de uma parte da sociedade de que a mulher pode e deve ser castigada, sendo saco de pancada de machões cruéis e covardes.

Essa onda de violência só vai ter um fim quando pais, cuidadores, todos nós, pararmos de tratar nossos filhos, desde bebês, marcando-os com “homem pode isso”, “mulher pode aquilo”. Deixemos de tratar as diferenças de gêneros como desigualdade. Porque é nesse ponto que começa a semente da violência doméstica.

Fico impressionado – e triste, confesso – de ver como os preconceitos racionais estão cada vez mais fortes no mundo inteiro. Negros, índios, imigrantes, mulheres, homossexuais, transgêneros…

Bastou ser diferente daquilo que certos indivíduos definem como “certo” ou “natural” para merecer julgamento, exclusão, agressão, discriminação. Acredito que se os veículos de comunicação respeitassem as mulheres que sofrem nas mãos dos seus agressores, evitando reproduzir em novelas cenas de violência, mas preocupados em disseminar os sinais indicativos de quem são esses homens violentos, os casos poderiam ser combatidos. Esse tipo de comportamento revela uma doença e, se não tratada, tende a progredir e ser transmitida a outras gerações.

Precisamos de campanhas que alertem, sistematicamente, mulheres em relacionamentos violentos. Elas precisam de ajuda para dar um basta, porque o amor só é verdadeiro quando não está contaminado pelo ranço do machismo e do ódio.

Dizer às pessoas que esses agressores, geralmente, são oriundos de ambientes familiares desestruturados e doentios. Muitos delas, na verdade, por falta de limites, valores e estrutura emocional sadia, acabam por repetir padrões de seus pais ou de figuras masculinas com quem conviveram na infância e adolescência.

A urgência está em mudar padrões familiares nas suas raízes. Para isso, há momentos em que o apoio profissional é imprescindível. A sociedade não pode fomentar o que grande parte da imprensa tem feito com relação ao tema: enxugar o gelo.

Este artigo é outro desabafo sobre a minha indignação, inclusive com a falta de compaixão dos veículos de comunicação com as vítimas da violência doméstica.

Faça a sua parte.

Crie seus filhos homens levando-os a compreender que tratar as mulheres com desigualdade é doença e não sinal de virilidade.

Mostre as suas filhas mulheres que não existe amor em relações violentas e que elas merecem parceiros que as respeitem e que estejam ao seu lado de igual para igual.

Boa sorte!

Sebastião Souza
Psicoterapeuta de casais e famílias 

Violência contra mulheres: punir sem prevenir é como “enxugar gelo”
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