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“Nossos comportamentos são nossas histórias colocadas em ações” (Bateson, 1972).

Muitas pessoas têm deixado de viver o tempo presente, mantendo-se angustiadas e ansiosas, tentando planejar e prever o futuro. Esse modus operandi traz a ilusão de que, dessa forma, é possível garantir o controle das variadas circunstâncias impostas diariamente.

Os futuristas são pessoas que correm praticamente 24 horas por dia. Mesmo quando dormem, seus cérebros mantêm-se a 320 km/h. Quando questionados com se veem em dois ou cinco anos, não conseguem imaginar alcançando aquilo de que tanto correm atrás. Não confiam no que constroem no presente, como se fosse possível construir um futuro sem se alicerçar nos seus lastros históricos anteriores. Em geral passam por cima de emoções e sentimentos “engolindo sapos e mais sapos” para garantir projetos pessoais e profissionais que, de um modo geral, são vividos, mas não internalizados, porque estão desconectados de si mesmos, no agora, neste tempo.

Viver o presente é um “perigo” para eles. Sim, porque no hoje é que conseguimos aferir ou mensurar se nos sentimos competentes como pessoas e profissionais. Não é possível definir começos, meios e fins de histórias futuras, mas só pensar em probabilidades, mas sem exatidão, porque o futuro não é uma equação matemática.

Viver no futuro sem construir o presente é uma forma de autossabotagem. A ausência de interconexão entre passado, presente e futuro sugere uma tentativa de fugir de vivências traumáticas, como perdas, abandono, desamparo, abusos emocionais e sexuais, enfim, dores, desconfortos e desprazeres que nos marcam.

A busca pela construção de um mundo ideal, repleto de expectativas e idealizações, leva a uma realidade distorcida das próprias experiências, ou seja, desejamos algo, consciente ou inconscientemente, que não temos estrutura emocional para “bancar”.  Como aquela pessoa que não foi amada, nem aceita pelos pais, ficando com essa dor, sem nunca procurar ajuda para se tratar. Ao mesmo tempo, deseja alguém que a ame intensamente, aceitando-a do jeito que é. Em determinado momento, ela encontra esse alguém e tudo começa bem.  Mas, com a convivência, as inseguranças e mágoas aparecem. A pessoa, que foi rejeitada no passado e não se cuidou no presente, pode se tornar extremamente possessiva, ciumenta com relação ao outro que idealizou.  Em outras palavras, o passado não tem como mudar. Precisamos aprender com ele. Negá-lo significa construir o presente em um pântano de areia movediça, o que representa almejar um futuro que só pode existir no mundo da fantasia, porque é tentar o impossível no que é possível.

Todos nós, no presente, somos regidos pelas nossas histórias, sejam elas doloridas ou não. Mas é partir delas que podemos construir um mundo de mais amor e solidariedade, no qual a velocidade do afeto e carinho com que quero chegar ao meu  futuro com sucesso seja semelhante ao que posso proporcionar ao  meu próximo.

Vamos fazer um exercício para entender se vivemos no presente ou não? Dê uma nota de 0 a 5 para cada uma dessas áreas, pensando no agora:

Afetiva-relacional – relações com familiares, amigos, colegas de trabalho
Produtiva – profissional
Orgânica – saúde física
Sociocultural – vivencia com o meio e com as experiências que ele proporciona
Espiritual – fé, esperança, positividade

Se você deu de 0 a 3 para pelo menos duas dessas áreas, é bom ficar alerta. Se foram mais áreas com essa avaliação, vale procurar ajuda profissional antes que você perca o pé de seu presente e comprometa todo o seu futuro. Você merece ser feliz hoje e amanhã, já que o ontem não pode mudar, mas serve como ferramenta importante para entender melhor sobre você mesmo.

O passado é tudo que temos.

O presente vivemos agora.

O futuro é uma mera ilusão, porque ainda não aconteceu.

Sebastião Souza
Psicoterapeuta de casais e de famílias

Viver no futuro, perder o presente e fugir do passado. Você é assim?
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