Landim é um grande amigo que gosta de contar histórias. Uma delas me marcou profundamente, por isso, compartilho com você, caro leitor, aproveitando que, neste mês, celebramos o Dia dos Pais.
Meu amigo contou que seu pai era meio herói, meio humano, simples e humilde. Muito trabalhador e responsável e ótimo contador de histórias (agora eu sei por que Landim também sabe contar histórias incríveis!). O senhor, pai de meu amigo, era um sujeito desconfiado, carinhoso, um tanto arredio, sempre pensativo, que reclamava por não ter tido oportunidade de estudar. Por isso, trabalhava bastante, para dar exemplo a seus filhos e a sua esposa. Para ele, um pai sem estudo precisava demonstrar sua honestidade e dedicação por meio do trabalho.
Homem negro, alto, desprovido de uma beleza clássica, era bondoso, inquieto e dizia a todo mundo: “Enquanto tiver saúde, eu irei trabalhar”. Na opinião dele, quanto mais se trabalha, mais crédito se tem com Deus: “Quem trabalha, Deus ajuda”, repetia o pai de Landim.
Ouvindo sobre seu pai, eu mesmo me emocionava por saber das boas lembranças que ele tinha dessa figura tão especial em sua vida. A curiosidade e facilidade de aprender de seu pai fascinavam Landim, que falava disso com brilho nos olhos.
Seu progenitor exercia várias profissões, desde pedreiro e bombeiro hidráulico a pintor de parede, sendo algumas vezes eletricista, o que sempre era um desafio perigoso por ser uma pessoa inquieta, o que poderia lhe causar um acidente.
Para Landim, seu pai, se fizesse terapia, seria provavelmente diagnosticado com TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade).
A alegria e felicidade de meu amigo ficavam claramente explícitas no seu sorriso contagiante ao relembrar as tiradas do pai/herói que também passei a admirar. Segundo Landim, algumas de suas falas eram preciosas, como a de que ele não gostava de pessoa “preguiçosa da cabeça”: “Essa gente fala que não sabe fazer uma coisa sem ao menos tentar uma vez”, dizia. Então, ele apelidava essas pessoas de “dona não consigo” ou “senhor não consigo”.
A vida do pai de Landim não foi fácil, mas meu amigo tem orgulho de se recordar de, aos onze anos, ter ajudado o pai a fazer a fundação da sua futura casa, cavando os buracos que comporiam o alicerce da primeira moradia própria da família. Uma responsabilidade que ele guarda até hoje na memória.
Ao trazer a lembrança à tona, Landim respirou fundo para contar que, quando seu pai voltava do trabalho, conferia se a tarefa na construção tinha sido cumprida. Meu amigo aguardava ansiosamente sua avaliação: “Muito bem! É assim mesmo. O que gente não sabe fazer tem que tentar. Vamos embora. Hoje trabalhamos bem. Agora é torcer para que Deus não se esqueça de anotar nossos créditos”, ressaltava seu pai.
Durante a narrativa das proezas e façanhas de seu pai, em determinado momento notei no rosto de Landim certa tristeza. A voz saiu embargada. “Onde será que meu pai está? Provavelmente trabalhando…”. Seu pai também dizia: “Quem trabalha não tem tempo para pensar besteiras”, repetindo sempre um velho ditado: “cabeça vazia é arapuca do diabo”.
As saudades, a sensação de desamparo que meu amigo demonstrava ao falar de sua perda expressou a difícil sensação da dor de quem não tem mais perto de si um ente querido, deixando sequelas psíquicas, fazendo muito barulho na cabeça daqueles que ficam.
Esse encontro com Landim, o rememorar de suas histórias, servem como fonte de aprendizado para que eu e ele possamos nos dedicar um pouco mais a relações de amor e de acolhimento que estabelecemos com aquele que amamos.
Um convite a você, que tem pais presentes ou que não os têm mais, mas pode dedicar-se a outras pessoas que ama: Pense de que forma está estabelecendo essas relações e quanto afeto dispõe para que possam se sentir especiais e queridos.
Na segunda parte deste artigo, vou compartilhar mais histórias do pai de Landim, para nos inspirar no nosso dia a dia com aqueles que queremos bem. Não perca!
Sebastião Souza